
CONTAMINANTES
Tendo em conta que a Canabis é uma planta, esta está sujeita a uma enorme quantidade de contaminantes durante o seu processo de crescimento, colheita, armazenagem, processamento e venda. [1]
Atualmente estão a ocorrer vagas de legalização da cannabis (quer medicinal, quer legal) no mundo, havendo uma expectativa do público que esta seja acompanhada por uma regulamentação e legislação no seu cultivo e processamento de forma a garantir o seu consumo de forma segura, o que não acontece necessariamente de forma “paralela”. [2]
Os dois contaminantes mais frequentes são as micotoxinas e os pesticidas.
Micotoxinas
Pesticidas
As micotoxinas são metabolitos secundários sintetizados por alguns fungos, como por exemplo Fusarium spp e Aspergillus spp.
Quando consumidos por humanos podem ter diversas atividades no organismo, destacando-se a atividade imunossupressiva, nefrotoxicidade, carcinogenicidade, entre outras.
Uma grande preocupação é a presença de várias micotoxinas, podendo isto ser um risco adicional para a saúde humana, por poderem ter ação aditiva ou sinérgica. [1]
Os pesticidas, estes abrangem uma vasta gama de compostos com atividade e estruturas muito variadas, sendo que o objetivo final destes é proteger as plantações e melhorar o seu crescimento.
No entanto, estes produtos, por se acumularem nas plantas, têm riscos associados como neurotoxicidade, cardiotoxicidade, toxicidade pulmonar, distúrbios no crescimento e reprodutivos. [1]
A contaminação com pesticidas é especialmente preocupante, quando a cannabis tem como finalidade o uso medicinal, pois esta passa a ser uma via de potencial exposição de uma população que é mais suscetível, por ter uma patologia associada.
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canabinóides, organofosfatos e carbamatos estão ligados ao stress oxidativo e toxicidade mitocondrial, sendo estes ligados ao lobo temporal (relacionado com epilepsia) pela via de sinalização MAPK;
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exposição concomitante de organofosfatos e canabinóides causa toxicidade neuronal durante o desenvlvimento;
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risco da exposição a associações de pesticidas, que podem ter um efeito aditivo ou sinérgico de neurotoxicidade, tal como acontece a exposição a clorpirifos, diazinon e diclorvos, que promovem ataques epilépticos, por hiperestimulação do sistema colinérgico. [2]
Estudo 1:
Análise de diferentes amostras de
nutracêuticos botânicos de cannabis
(medicamentos naturais)
Análise por cromatografia líquida de alta performance coms espetroscopia de massa, para:
- identificar e quantificar 16 micotoxinas;
- screening de 283 pesticidas.
MICOTOXINAS
70% das amostras com contaminação
- zearalenona foi a mais prevalente;
- 25% das amostras apresentavam associação entre duas ou mais micotoxinas (associação mais comum é a de zearalenona com eninatina B1, A e/ou A1).
PESTICIDAS
foram identificados 46 pesticidas diferentes (mais prevalentes):
- etoxiquina (impedir a contaminação fúngica após a colheita - poibido pela Comissão Europeia);
- piperonil butoxide (inibe os mecanismos de resistência dos insetos, usado com outros pesticidas diferentes);
- cinazina e simazina (proibidos na Europa)
Estudo 2:
Estudo feito para ver a relação entre canabinóides, inseticidas e efeitos nas doenças neurológicas.
Identificados:
22 inseticidas,
2 canabibóide,
63 genes humanos
Relação entre estes e clusters de genes associados a ataques epilépticos (10 variações presentes em pacientes com epilepsia)
DDT, diazinona, imidacloprido, paraxona e permetrina induzem variações CHRNA4 e SLC2A1 (associadas à epilepsia)
Isto implica que estes 5 inseticidas têm capacidade de induzirem alterações que estão associadas a ataques epilépticos.
Tendo em conta que teoricamente a cannabis medicinal pode ser usada para a epilepsia, se esta estiver contaminada com certos inseticidas, não só naõ vai tratar os ataques epilépticos, como os pode aumentar.
Bibliografia:
[1] Narváez A, Rodríguez-Carrasco Y, Castaldo L, Izzo L, Ritieni A. Ultra-High-Performance Liquid Chromatography Coupled with Quadrupole Orbitrap High-Resolution Mass Spectrometry for Multi-Residue Analysis of Mycotoxins and Pesticides in Botanical Nutraceuticals. Toxins. 2020;12(2):114.
[2] Pinkhasova D, Jameson L, Conrow K, Simeone M, Davis A, Wiegers T et al. Regulatory status of pesticide residues in cannabis: Implications to medical use in neurological diseases. Current Research in Toxicology. 2021;2:140-148.