
EFEITOS ADVERSOS
A ciência demonstrou claramente que Δ-9 tetrahidrocanabinol (THC), o composto psicoactivo encontrado na planta Cannabis sativa, é absorvido pelos pulmões quando fumado e pelo trato gastrointestinal quando ingerido e, prontamente, distribuído ao cérebro e às células do tecido adiposo. A distribuição no cérebro e a activação de recetores endocanabinóides produz o efeito psicoactivo relatado com o uso da cannabis. [1]
Efeitos no Cérebro [1]
Efeitos Agudos [2]
Na maioria dos indivíduos, os efeitos psicológicos agudos da cannabis incluem:
Relaxamento
Sociabilidade
Euforia
Ansiedade
Ataques de pânico
Paranoia
O uso de cannabis demonstrou afetar o funcionamento cognitivo, bem como a velocidade psicomotora, tanto agudamente como para além do período de intoxicação.
A nível comportamental, a administração de cannabis e THC tem sido particularmente associada à indução de efeitos psicotomiméticos, caracterizados por pensamento delirante e alucinações, muito semelhantes aos sintomas observados na psicose e na esquizofrenia.
Os efeitos do sistema nervoso central (SNC) do THC resultam da ativação generalizada do recetor CB1 no cérebro. As regiões cerebrais de alta expressão incluem o hipocampo, cerebelo, gânglios basais e córtex cerebral, o que está de acordo com os efeitos adversos da cannabis, tais como perturbações da memória, da coordenação motora e das funções cognitivas.

1. Efeitos do THC sobre o cérebro humano. O THC, o principal constituinte ativo da cannabis, liga-se e ativa o receptor CB1 do canabinóide em todo o cérebro. Dependendo da distribuição regional e da abundância de receptores CB1 no cérebro e da função fisiológica das regiões cerebrais, o THC exerce efeitos diferentes. Figura adaptada do National Institute on Drug Abuse (https://www.drugabuse.gov/publications/research-reports/marijuana)
Descobre mais sobre como a Cannabis exerce os seus efeitos no corpo humano, carregando neste botão:
Efeitos Crónicos [2]
Estudos sugerem que a gravidade destes efeitos é dependente da dose e que há uma relação temporal entre esta e o uso de cannabis.
Assim, os efeitos são mais pronunciados com a maior duração do uso de cannabis e início mais precoce, apoiando a noção de que o uso de cannabis a longo prazo leva a deficiências no funcionamento cognitivo e a um défice no bloqueio sensorial que perduram além do período de intoxicação e pioram com o aumento dos anos de consumo.
O THC parece afetar os processos cerebrais ao interromper a plasticidade sináptica mediada por endocanabinóides em regiões do cérebro que são críticas para a aprendizagem e memória.
Mudanças na morfologia do cérebro nos usuários crónicos, podem incluir:
Redução do volume do hipocampo
Redução do volume da substância branca do cerebelo
Redução da espessura cortical
Vários estudos longitudinais relataram melhorias no QI e nas habilidades cognitivas específicas se os usuários regulares de cannabis se tornarem abstinentes. [3]
Efeitos no Sistema Cardiovascular [4]
O THC provoca um aumento agudo da pressão arterial e do ritmo cardíaco.
Estudos demonstram que o uso de canábis aumenta de forma aguda os riscos de enfarte do miocárdio em pacientes mais jovens.
As aflatoxinas, produzidas por Aspergillus fumigatus (frequentemente encontrada na planta da cannabis), podem também ter efeitos secundários cardiovasculares. Estes incluem a perturbação da síntese de proteínas nos miócitos, bem como a perturbação das mitocôndrias.
Efeitos no Sistema Respiratório [5]
A inalação de fumo de cannabis por qualquer meio coloca os seus utilizadores em risco respiratório indevido devido à mitigação da defesa imunitária respiratória, aumento das secreções respiratórias, e desenvolvimento de síndromes pulmonares tais como bronquite, enfisema, bronquiolite necrosante, pneumotórax, pneumomediastino, pneumonia fúngica, tuberculose, e cancro do pulmão. Estas doenças não se devem apenas à cannabis, mas sem dúvida à significativa carga contaminante inalada pelos seus utilizadores.
Bibliografia:
[1] Blaskowsky LM. Fetal and Neonatal Marijuana Exposure. InCannabis in Medicine 2020 (pp. 401-414). Springer, Cham.
[2] Van Winkel R, Kuepper R. Epidemiological, neurobiological, and genetic clues to the mechanisms linking cannabis use to risk for nonaffective psychosis. Annual review of clinical psychology. 2014 Mar 28;10:767-91.
[3] Hall W, Leung J, Lynskey M. The Effects of Cannabis Use on the Development of Adolescents and Young Adults. Annual Review of Developmental Psychology. 2020 Dec 15;2:461-83.
[4] Randall K, Roberts B, Cienki J. Acute Emergency Department Presentations Related to Cannabis. InCannabis in Medicine 2020 (pp. 157-170). Springer, Cham.
[5] Merrick CM, LeBlanc JJ. Cannabis in Pulmonary Medicine. InCannabis in Medicine 2020 (pp. 185-208). Springer, Cham.)
Imagens:
1. Figura adaptada do National Institute on Drug Abuse (https://www.drugabuse.gov/publications/research-reports/marijuana)