
GRUPOS DE RISCO
Adolescentes [1]
Uma série de resultados robustos indicam a existência de subpopulações vulneráveis e / ou janelas de tempo. Estudos observacionais, bem como estudos com animais experimentais, mostraram que a adolescência é um período particularmente vulnerável em termos dos efeitos indutores de psicose da cannabis.
Quanto mais precoce for a idade de início de consumo, mais problemático é o status clínico do paciente. Ou seja, este início prematuro está associado a:
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um pior desempenho cognitivo;
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alterações morfológicas do cérebro;
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mudanças duradouras na função e na morfologia do cérebro adulto, associadas a défices no funcionamento cognitivo;
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alterações neurocomportamentais implicadas no comportamento aditivo, como aumento da sensibilidade para outras drogas de abuso.
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um aumento modesto no risco de ideação suicida e, consequentemente, a um aumento no risco de tentativas de suicídio em adultos jovens.
Estudos observacionais mostraram que jovens expostos ao stresse no início de vida, como crescer num ambiente urbano ou a exposição a traumas infantis, aumentam a vulnerabilidade aos efeitos da cannabis.
Fatores Genéticos e Familiares [1]
Quanto a fatores familiares e genéticos, possivelmente incluindo o polimorfismo AKT1 rs2494732, são fatores que contribuem para determinar a vulnerabilidade para o desenvolvimento de psicoses aquando do uso de cannabis. Estes indivíduos apresentam certos alelos de risco em genes que estão associados com a sinalização pós-sinática da dopamina, sendo que, quando expostos a cannabis, esse desenvolvimento pode ser despoletado ou acelerado.
Gravidez
O parecer do comité do American College of Obstetrics and Gynecology (ACOG) sobre o uso de cannabis durante a gravidez e lactação detalha os estudos com modelos animais que demonstraram a transmissão placentária de THC com níveis fetais que atingiram 10% dos níveis maternos após uma exposição aguda e ainda mais elevados para exposições repetidas. [2]
A exposição a canabinóides exógenos através da mãe, que usa cannabis, pode levar a riscos acrescidos de complicações neonatais e efeitos na primeira infância como: disfunção da função executiva com dificuldades de atenção, problemas de resolução de problemas, disfunções de memória/processamento, depressão e comportamentos agressivos. [3]
Existem efeitos psicoactivos conhecidos sobre os neurónios adultos, totalmente formados através da exposição ao THC. Com dados que demonstram que o THC atravessa a placenta, é provável que sejam causados ainda mais danos aos neurónios ainda em formação, seja dentro ou fora do útero. [2]
Lactentes [2]
Fora do útero, os bebés são ainda mais expostos através do leite materno se as mães continuarem a a consumir cannabis após o parto. Tendo em conta a natureza lipofílica do THC, este pode ser encontrado no leite materno durante várias semanas após a última utilização, se a mãe for uma utilizadora crónica. Em menor grau, o canabidiol (CBD) também foi encontrado em níveis detetáveis no leite materno.
As concentrações absolutas de transmissão não são certas, uma vez que parecem ser dependentes, tanto da dose (quantidade de uso materno), como também da proximidade (à amostragem).
Imunocomprometidos [5]
Neste contexto, o uso tem como objetivo melhorar a qualidade de vida dos doentes. Assim, a cannabis é utilizada no alívio da dor, no controlo das náuseas e na melhoria do humor. No entanto, esta planta transporta diversos microorganismos, ainda mais prejudiciais para doentes imunocomprometidos.
O fumo ou a vaporização de cannabis medicinal pode levar a infeções pulmonares com risco de vida, incluindo a aspergilose em doentes imunocomprometidos, como resultado da inalação direta de bactérias e bolores ubíquos na superfície das plantas. A esterilização da cannabis em doentes imunocomprometidos é, portanto, imperativa antes da sua utilização.
Bibliografia:
[1] Van Winkel R, Kuepper R. Epidemiological, neurobiological, and genetic clues to the mechanisms linking cannabis use to risk for nonaffective psychosis. Annual review of clinical psychology. 2014 Mar 28;10:767-91.
[2 Blaskowsky LM. Fetal and Neonatal Marijuana Exposure. InCannabis in Medicine 2020 (pp. 401-414). Springer, Cham.
[3] Wang GS, Greydanus DE, Cabral MD. Cannabis and the Impact on the Pediatric and Adolescent Population. InCannabis in Medicine 2020 (pp. 133-156). Springer, Cham.
[4] Ruchlemer R, Amit-Kohn M, Raveh D, Hanuš L. Inhaled medicinal cannabis and the immunocompromised patient. Supportive Care in Cancer. 2015 Mar;23(3):819-22.