
CONTROVÉRSIA
Cannabis sativa L. enquanto planta medicinal
Há evidências científicas da aplicabilidade e efeito dos cannabinóides no alívio de sintomas em certas doenças, no entanto, o mesmo não se aplica à planta cannabis.
Enquando planta, quando é usada esta não vai conter apenas os canabinóides de interesse terapêutico, ela é composta por mais de 500 compostos, sendo que a grande maioria não vai ter efeitos fisiológicos no corpo do paciente. [1] Para além disto, há uma inerente variabilidade de dosagem e de compostos produzidos pelas plantas consoante as condições ambientais, solo e espécie. Isto implica que não haja uma garantia de uniformidade de dosagem nas partes da planta da cannabis e como tal não podemos garantir que na dose de planta que é recomendada dar, por ter teoricamente uma certa quantidade de canabinóides, que essa não vai ter um valor diferente (quer por excesso, quer por defeito).
Como não podemos garantir a reprodutibilidade da dosagem, não conseguimos prever exatamente os efeitos, podendo estar a comprometer a eficácia do tratamento ou a colocar em risco o paciente, por exposição a uma sobredose. [2]
Ao contrário do tabaco e álcool, em que se determinou um padrão para o risco inerente de forma quantificada, na cannabis ainda não existem padrões aceites para um “uso seguro”, nem dosagens apropriadas para guiar o uso dos consumidores, sendo por isso o seu uso medicinal e recreativo muito influenciado pela variabilidade interindividual entre consumidores/pacientes. [3]
Por outro, lado também podem estar presentes contaminantes na planta da cannabis, como micotoxinas e inseticidas, que como é falado no capítulo contaminantes (hiperligação?), pode trazer riscos para a saúde humana e ter efeitos de agravamento de certas patologias, em vez de ser o seu tratamento. [2]
Cannabis fumada pode ser medicinal?
Neste caso a maioria das opiniões dadas é que medicinalmente não é a melhor forma para se consumir cannabis:
-
Fumo quente, resultante da quiema de matéria orgânica, é inerentemente nefasto para a saúde têm carcinogenicidade, pela presença de hidrocarbonetos arom+áticos policíclicos e alcatrão; [1]
-
Pela queima da matéria orgânica geram-se químicos nocivos e a queima de cannabis não elimina nenhum destes produtos, logo vamos estar a aumentar a exposição a estes químicos, para além de que é pratica comum não se usarem filtros o que aumenta ainda mais o contacto com estas substâncias nocivas;
-
Há estudos científicos e empíricos que demonstram que fumar cannabis têm impactos nefastos, não só na saúde física e mental das pessoas, como também interfere com o normal funcionamento das questões sociais e ocupacionais do paciente; [4];
Para além disto, o consumo de cannabis, de uma forma geral têm u ma menor cadência, quando comparado com o tabaco. No entanto, na prática é mais comum fazerem-se inalações mais profundas do fumo, com maiores tempos de retenção, associadas à anteriormente referida falta de filtros. Quando esta técnica de inalação é praticada a concentração em carboxiemoglobina aumenta quase cinco vezes em relação aos valores normais e a inalação do carvão e sua retenção no trato respiratório inferior aumenta quarto vezes e um terço, respetivamente.
Estes utentes frequentemente apresentam um quadro de inflamação das vias aéreas e alterações hispatológicas, podendo estar associadas ou não a alterações moleculares, indicando um a possível atividade pré-cancerígena ao nível dos brônquios [1].
Cannabis e “trigger” de psicoses e esquizofrenia
O uso de cannabis está associado a um aumento do risco de sintomas psicóticos e psicoses, sendo que há três tipos de psicoses associadas ao consumo de cannabis:
-
Psicose aguda, que está associada à ação central do THC, que é um psicotrópico (que muitas vezes a razão para o seu consumo recreativo);
-
Psicose persistente, que passa o período do efeito dos compostos, podendo persistir até 1 mês;
-
Psicose persistente, que já não têm relação com a exposição, esta está associada a um consumo regular ou a elevadas doses de cannabis.
Esta relação não só é proporcional à dose (consumo médio está a associado a a um risco duas vezes superior de despoletar psicoses, enquanto que o seu consumo pesado têm uma relação quatro vezes superior), como também à idade de exposição, sendo que quanto mais jovem for o consumidor, maior a probabilidade de desenvolver psicoses.
Para além disto, há evidência de uma vulnerabilidade genética para o desenvolvimento de psicoses por terem certos alelos de risco em enes que estão associados com a sinalização pós sinática da dopamina, como o DRD2 e AKT1, nestes casos, quando expostos a cannabis esse desenvolvimento pode ser despoletado ou acelerado, por terem uma hipersensibilidade pós sináptica. [1]
Legalização e legitimização da cannabis
Segundo a Associação Portuguesa de Adictologia, a legalização ou a utilização médica da cannabis fumada, vai provavelmente levar a riscos para a saúde pública, incluindo um aumento do risco das psicoses e perturbações mentais ligadas ao consumo desta substância.
Por um lado defende-se que a legalização da cannabis é uma possível estratégia para se controlar o consumo e qualidade do produto, podendo-se estabelecer critérios de aceitação para as plantas, reduzindo assim o risco de contrafação, venda ilegal e contaminação não só com inseticidas, mas também com outras substâncias adicionadas para potenciar os efeitos da cannabis e ainda legislar o consumo, tratamentos de adição e hospitalizações como é feito com o álcool e o tabaco. No entanto, no nosso país, quando se legalizou o álcool e o tabaco (ambos com intenções semelhantes à da cannabis) não se denotou uma diminuição dos comportamentos aditivos e das dependências, sendo no final, um facilitador das mesmas e só com a implementação de políticas gradulamente mais restritivas, como aconteceu nos últimos anos no caso do tabaco, é que se tem mostrado resultados positivos no que conta ao seu consumo e problemas de saúde associados. [3]
Tendo em conta a associação que a lei têm com a perceção do risco da população perante substâncias nefastas, ao se legitimar o consumo de cannabis (quer como fármaco, quer recreativo), corre-se o risco de passar a ideia de que esta é uma substância segura. Hoje em dia, existe e está a voltar a ganhar expressão a corrente de que produtos naturais são seguros e inóculos e sendo a cannabis uma planta, ha a possibilidade de cair neste discurso que é enganador para o público. Por outrolado, há uma aceitação social que existe perante esta planta, através de partilha de experiências e histórias entre familiares e amigos, ajuda a reforçar a falsa segurança do seu consumo, já que os consumidores tendem, no seu discurso, apenas a forcar nos efeitos positivos e desejados e a minimizar os potenciais riscos, traduzindo-se assim uma visão parcial do seu consumo. [4]
Nunca se deve esquecer que a cannabis é uma substância psicoativa muito forte e que têm impactos na saúde das pessoas, sendo a dorga ilícita de maior consumo no mundo e está associada a milhões de mortes por ano, têm várias doenças resultantes do seu consumo continuado, leva a um aperda de produtividade. Para lém de estar associada a sinistralidade rodoviária, contrabando e venda ilegal. [3]
Parafrazeando o parecer de várias associações, institições e da ordem dos farmacêuticos:
-
No que conta ao uso de cannabis medicinal, o uso de cannabinóides sob a forma de medicamento, com todas as exigências associadas, no alívio de certas sintomatologias parece ser benéfico (apesar de ainda não ser terapêutica de primeira linha por falta de evidência científica e história de uso clínico), de tal forma que já existe um medicamento aprovado no mercado;
-
No entanto, não existe ainda evidência que a planta Cannabis sativa L. tenha uma relação benefício-risco robusta o suficiente para poder ser aprovada, tendo associada a ela problemas de segurança e potencial risco toxicológico. [2,3,4]
Bibliografia:
[1] parecer da ordem dos farmacêuticos, sobre o projeto lei nº:726/XIII (3ª) BE e nº727/XIII PAN (junho de 2018)
[2] Parecer sobre o projeto lei nº726/XIII (3ª) BE e nº727/XIII (3ª) PAN (junho de 2018)
[3] Parecer do instituto de administração da saúde sobre o projeto lei nº726/XIII (3ª) BE e nº727/XIII (3ª) PAN (junho de 2018)
[4] Parecer da Associação Portuguesa de Adictologia sobre a utilização da cannabis com fins terapêuticos (13/02/2018)